Pela primeira vez pôde presenciar o olhar antes apenas presente em sua mente, que sempre imaginava e imaginava e imaginava: os intrigantes olhos de ressaca de Capitu. Aquele olhar à sua frente traduzia em imagem as palavras já lidas e relidas do livro do Machado. Nenhuma palavra foi dita. Os olhares bastavam-se. Não sei por quanto tempo ficaram ali, comendo-se pelo olhos, mas a sensação do tempo ter parado não foi só minha.
No meio da escuridão da noite – na qual tudo parece ter vida -, seus corpos confundiam-se com o tudo vivo. Já não sabiam quem era quem. Eram o tudo, afinal.
O som da banda de garagem tocando jazz misturava-se com os altos e profundos gemidos, sem dar-nos a chance de distinguir o gozo da música.
Os sussurros excitantes eram o papo animadíssimo do pessoal sentado na mesa do bar.
Porém nada disso afetava o êxtase daquelas criaturas.
O metrô chegou e aqueles olhos de ressaca foram embora. Se encontrar-se-iam novamente para concretizar em carne o prazer tido pela troca de olhares? Não sei. A carne às vezes é menos entorpecente.
domingo, 30 de setembro de 2007
amores breves de metrô
by indie.
Postado por June às 19:42
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