rotina

O despertador a fez acordar exatamente às cinco e meia da manhã. A vertigem comum que sentimos ao acordarmos e o frio típico das manhãs de inverno em São Paulo conspiravam para que ela continuasse ali embaixo das cobertas. Mas ela tinha um dia inteiro pela frente...
Levantou, tomou um banho rápido e vestiu-se. Desceu e fez o café, forte e amargo, claro. Saboreou-o lendo o jornal. Acendeu um cigarro. Café, jornal e cigarros, seu ritual de prazer matinal. Logo após ela precisava sair e ir para faculdade.
Ônibus lotado. Como ela odiava pegar ônibus lotado. Porém, um dia um certo garoto comentou sobre a "experiência de comunhão" que ocorria dentro dos ônibus e este lance meio hippie a fez refletir, então ela passou a olhar com outros olhos essa tal "experiência". Continua não gostando de ônibus lotado, mas já não sente aquela raiva toda. O trajeto casa-faculdade foi mais suave naquele dia.
Ela desce do ônibus e vai andando até a faculdade, onde encontra alguns amigos e senta com eles para jogar truco e fumar. Às oito horas é preciso ir para sala de aula.
A maioria das aulas são um porre para ela. Ela já não sabe o que está fazendo ali. Porque foi escolher logo Direito? Acha que isso não é para ela. Tem 17 anos e está um pouco - ou totalmente - perdida. Precisa se encontrar. Agora pensa em fazer Jornalismo, Cinema ou Veterinária. Sem nenhuma certeza, ela continua com Direito. Se pudesse fazer apenas uma coisa, teria uma anda e viajaria cantando pelo mundo inteiro. O sinal do intervalo e a voz do professor fazem ela voltar à realidade.
Um suco, mais cigarro, mais truco. Outra aula, mais sonhos acordados, textos nada a ver, desenhos e impaciência.
Então onze e meia da manhã é hora de sair da faculdade para ir para o trabalho. Ela entra à uma da tarde. Os alunos às vezes a deixam sem paciência, mas ela adora aqueles pirralhos. A energia que eles passam não tem comparação. Às seis é o horário que ela sai.
Chega em casa exausta. Às vezes estuda, às vezes entra na internet, às vezes não faz nada.
Hora de dormir.
E... o despertador a faz acordar exatamente às cinco e meia da manhã. Começa tudo outra vez. O que muda é que de segunda e quarta ela faz inglês e que tem dias em que algumas pessoas fazem o dia dela mais feliz.
Ela precisa fazer alguma coisa para que essa sua rotina de segunda a sexta fique mais interessante.