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sábado, 18 de outubro de 2008

ratos

Não havia estrelas no céu. Nem a lua mandava a sua luz. Os astros haviam esquecido esse lugar. Mas o vento perfumava o ar com um cheiro doce. Um pouco enjoativo, é verdade. Mesmo assim, era doce. Ninguém ousava sair às ruas. Estavam todos enjaulados em suas próprias casas. A ilusão de proteção que muros e cadeados causam. Não poder sair de sua própria casa por medo da violência? Isso já é demais para mim. Deixamos de viver nossas vidas por insegurança. Como chegamos a esse ponto? Quem são os que realmente estão no poder? Tudo não passa de uma conspiração? Chega, chega. Nos privamos de nosso mínimo direito à liberdade. Não quero viver assim, não quero. E o que estamos fazendo para reverter essa situação? Porra nenhuma! Chega. Chega de ficar parada. Calada. Fecho a janela. Desço até a garegem, abro o portão e saio. Deserto, tudo deserto. Ou quase. Um cachorro branco dorme numa casinha improvisada. Até o bar da esquina encontra-se fechado. Um rato passa correndo há poucos centímetros dos meus pés. Ah, um rato! Os ratos sim são livres. Como gostaria de ser um deles nesse momento!

Continuo andando. Apenas os barulhos dos meus passos. O ar fica cada vez mais enjoativo. Sinto-me tonta, sento na calçada e acendo um cigarro. E outro, e outro, e outro.
O cachorro branco acorda e vem até mim. Você se sente sozinho, white dog? Como é ter as ruas como lar? Já foi atropelado? As pessoas te alimentam? Já teve um dono? Está com frio? Eu afagava sua cabeça e ganhava lambidas como recompensa. Aqueles olhinhos tristes e o rabinho abanando pelo meu simples gesto de lhe fazer carinho me consquistaram.
Eis que surge um grupinho de adolescentes visivelmente bêbados. O enjoativo cheiro doce é invadido por um forte cheiro de maconha.
O que a gracinha faz fora de casa a uma hora dessas?Acho melhor ir dormir antes que aconteça alguma coisa ruim, menina. Hã, tipo o quê? Por acaso a garotinha sabe com quem está lidando? Por acaso vocês não podem apenas responder uma pergunta? Olha, sinceramente, eu tô cansada de ficar presa em casa, de não poder sair quando eu bem entender porque dizem que não é seguro. Será que não dá pra dividir a rua? Eu tenho cigarros se vocês quiserem, aliás, eu poderia até emprestar meu celular, meu ipod, minha câmera fotográfica, vocês poderiam usar e depois me devolver, porque eu não sou nenhuma milionária pra ficar comprando essas coisas a toda hora. Nós poderíamos conversar, trocar experiências. Mas porra, por que não compartilhar as ruas pacificamente? Ninguém é melhor do que ninguém, porra. Não é porque eu tenho um carro ou uma casa legal que sou uma pessoa melhor, entende? Entende? Quer um trago? É das boas. Claro.
Alguns tragos depois...
Porra, o rato comeu aquele cachorro! Matem aquele rato! Ou melhor não matem, se não o cachorro morre também. Lembra da estória da Chapeuzinho Vermelho? Precisamos abrir a barriga do rato e tirar o cachorro de lá! Cadê o caçador?
Só sei que de repente as estrelas e a lua voltaram. O céu estava iluminado.
Eles não quiserem meus cigarros, nem meu celular, meu ipod ou minha câmera. Sei que a noite poderia ter terminado tragicamente. Mas não terminou e é isso que importa. Sei que nem todos os grupinhos de adolescentes bêbados, drogados & armados são legais. Mas aqueles eram.
Andei de volta para casa. White dog são e salvo comigo. Eu era livre, finalmente livre. Coloquei White dog na garagem, dei água e comida, mais tarde o levaria ao veterinário e ao pet shop. Subi para o quarto. Tirei a roupa e entrei embaixo do chuveiro. Um único pensamento martelava minha mente: de quem realmente devemos ter medo?

1 comentários:

Jana Lauxen disse...

Sinceramente?
Eu acho que de nós mesmos.

Ninguém pode fazer mais mal para nós
do que nós.

Beijoca