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sábado, 13 de outubro de 2007

satyros

Esse texto é do García Vazquéz, do Satyros, cara que admiro demais. (aliás, qualquer um que luta como ele pela arte, é digno de ser admirado)

Hoje fiquei sabendo que dois teatros, de amigos nossos, vão fechar as portas. Fico de luto - pelo fim de dois espaços teatrais, pela perda de trabalho de muitos artistas, pelo esfacelamento de tantos sonhos, pelo empobrecimento artístico da cidade.
Nós já passamos tanto por isso na nossa trajetória satyrica - quantas vezes não conseguimos pagar nossas contas e tivemos que nos humilhar? quantas vezes fomos expulsos de espaços onde estávamos construindo belas histórias? quantas vezes tivemos que abandonar sonhos por falta absoluta de grana? quantas vezes perdemos atores e amigos porque não podíamos pagar seus cachês? quantas vezes nos negaram e continuam negando patrocínio? (e hoje, ironicamente, nos negam dizendo que somos ricos!!!??!!?!) quantas vezes chegamos anônimos numa cidade e tivemos que reconstruir a nossa vida?
Algumas dessas histórias estão na nossa biografia impressa e editada, outras se perderam no esquecimento ou no silêncio da vergonha.
Fico abalado pelos amigos dos dois teatros e fico aflito por nós e comento com um amigo meu da Academia. Ele diz que é justamente isso o que ele admira em nós: o fato de estarmos no campo de batalha, de não estarmos sentados no conforto da reflexão remunerada. E eu me calo. Eu tive uma vez a opção de ser um pensador do teatro e me neguei a isso. Queria viver no campo de guerra. Nem sei se eu tinha opção. Acho que nasci para nadar contra a correnteza.
Num momento como este, em que nós também enfrentamos nos Satyros tantas dificuldades, o fim dos dois teatros só nos obriga a ficar ainda mais atentos. A batalha nunca tem fim.
E amanhã vai vir um jovem universitário, como tantos têm vindo, e vai colocar um gravador na minha frente e me perguntar como foi que nós construímos a nossa história "de sucesso". E eu não sei se ele ou o seu mini gravador atento vão entender que aquilo que parece uma história tão bonita está cheio de sacrifício, dor e superação, às vezes quase insuportável.
E eu vou ter o privilégio de dar essa entrevista, porque nenhum universitário vai pensar em entrevistar aqueles que acabaram sucumbindo (se Deus quiser, apenas momentaneamente). Vou responder à entrevista em nome dos que construíram a história dos Satyros comigo e também em nome de todos esses amigos artistas que vivem em função desse sonho chamado teatro.

E hoje tem Satyrianas, vou ver meu tchutchuco Caio Blat, na peça "Cochicho", às 21 horas.

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